RESUMO
“Os sentidos atribuídos pelas crianças à cidade”
Esta pesquisa teve por objetivo realizar um estudo exploratório qualitativo em dez municípios capixabas sobre os sentidos atribuídos pelas crianças à cidade. Participaram como informantes 220 crianças com idades de cinco anos, residentes em contextos urbanos e rurais que frequentam instituições públicas de educação infantil. Para a análise das respostas mais recorrentes das crianças levou-se em consideração três eixos de investigação e análise (1) Os sentidos que as crianças atribuem à cidade (2) Os diferentes modos de habitar das crianças em contexto rural e urbano (3) Caracterização da cidade sob o ponto de vista da utilização dos espaços pelas crianças. Discorrer sobre os sentidos atribuídos pelas crianças à cidade é uma possibilidade de expor alguns constrangimentos pelos quais elas passam em função de serem excluídas do seu planejamento e dos espaços sociais mais amplos. Nesse processo, novos enunciados dão conta de expor o paradoxal movimento entre a invisibilidade das crianças e a capacidade de as culturas infantis inaugurarem novos dispositivos discursivos que permitam construir outras racionalidades, o que nos leva a afirmar que, embora suas práticas discursivas sejam interpeladas por um universo cultural globalizado, as culturas infantis revelam uma capacidade peculiar de se inscrever e de se expressar no mundo. Se o recrudescimento dos espaços públicos limita, cada vez mais, as possibilidades de circulação das crianças nos diferentes tempos e espaços sociais, o modo como se apropriam desses espaços e lhes atribuem sentido indica o quanto são capazes de formular conceitos, tendo como referência as possibilidades ou não de ação e interação em seus diferentes contextos de vida. Tais reflexões nos levam a inferir que, se as culturas da infância são pouco visíveis nos contextos urbanos e rurais, é porque a cidade ainda não se percebeu como um suporte social importante para a vida em comunidade. Respeitar e levar em consideração as crianças como sujeitos indispensáveis à constituição de uma experiência pública compartilhada confere outra dignidade à cidade, pois se nos termos de uma sociabilidade regida pela pluralidade humana, as diferenças devem encontrar ressonância na vida em comunidade, excluir as crianças dos vínculos sociais mais amplos, é privar a infância de determinadas experiências e subordiná-la a regimes discursivos que nada contribuem para o seu reconhecimento público.